Paisagens urbanas: significação e apagamento de memórias coletivas

Trata-se do estudo das transformações de paisagem nos centros urbanos de metrópoles a partir da análise de casos de alterações em orlas. Estes espaços tradicionais e de grande significado à vida urbana são consideravelmente alterados morfologicamente na busca de novos mercados imobiliários principalmente focados no fomento ao turismo, configurando um processo político no qual a cidade esta em disputa. Parte-se da admissão de que toda paisagem é cultural ao relacionar-se com seu entorno enquanto categoria descritiva socialmente construída a partir da imagem da cidade. Assim, é a imagem que orienta a compreensão de paisagem. O conceito de imagem refere-se à definição de Deleuze (1990) e é utilizado tanto como ferramenta procedimental, no sentido da materialização de um discurso baseado na paisagem e constitutiva da memória coletiva, quanto junto à experiência no sentido epistêmico da reflexão a partir da práxis, elemento necessário tanto para a constituição de espaços como de memórias. Quando se trata da paisagem a leitura aportada é a de Berque (1998), o qual traz que a paisagem é composta por marca e matriz. É marca porque expressa uma civilização e é matriz porque participa dos esquemas de percepção, concepção e ação. A instauração de discursos sobre o espaço parte de imagens que constituem e são constituídas pela memória. Trata-se aqui da memória coletiva, relacionada ao local através de fatores sócio-históricos. O problema em tela é: como a imagem orienta o reconhecimento da paisagem? E como esta questão se apresenta na construção dialética entre paisagem e memória? O objetivo geral da pesquisa é investigar as alterações de paisagem das metrópoles e sua relação com os processos de memória coletiva. A análise será realizada no sentido de averiguar se as alterações morfológicas operam no sentido do apagamento de uma memória de cidade ou do processo natural de modernização das cidades em espaços degradados. Trata-se de um processo de significação ou ressignificação, visto que a intervenção pode ocultar ou valorizar a memória coletiva do local. A imagem vai além da transmissão de uma ideia pelo campo figurativo e passa a ser entendida como discurso. Assim como a paisagem, a memória se constitui da construção do aspecto discursivo imagético, porém trata-se de uma relação dialética visto que a memória interfere na forma como se percebe a imagem, de modo que uma (re)afirma a outra. Propõe-se que seja considerada a formulação sobre imagem, memória e paisagem na fronteira frágil entre a materialidade e imaterialidade, entre o individual e o coletivo, entre o passado e o presente, entre a testemunha e a invenção, entre o mental e a ação. A coleta de dados estrutura-se na análise etnográfica das relações de vivência, disputa e inteirações que se dão nos locais em que a paisagem sofre alterações politicamente orientadas. Através do estudo de caso os dados são investigados a fim de elucidar questões maiores do que o recorte em si, de acordo com seu contexto espacial e temporal. O estudo estrutura-se metodologicamente na abordagem etnográfica que tem o plano central a aproximação da discussão teórica com o caso prático, sendo uma técnica que permite uma descrição densa, extensa do saber local.