Franquias da paisagem: o encolhimento do espaço público de Manaus como consequência do urbanismo contemporâneo

Partindo da certeza de que as transformações ocorridas na sociedade se materializam no espaço, este projeto pretende investigar a chamada cidade dos negócios, onde todas as estratégias de construção da paisagem, em especial na cidade de Manaus, convergem para o encolhimento do espaço público. Este espaço público vai além das atividades de encontro e lazer, e o que interessa aqui é o espaço público político, conflituoso e dissensual, que estão negados pela construção da cidade-espetáculo (cidade-cenário; cidade-museu; cidade genérica; cidade parque-temático; cidade-shopping; …) que aliadas ao marketing urbano, produzem marcas ou grifes (branding) no processo de construção da paisagem contemporânea a fim de garantir um lugar na geopolítica das redes globalizadas de cidades. Trata-se da criação de verdadeiras franquias urbanas, passiveis de serem encontradas mundo afora, em uma espécie de produção industrial do território. Neste contexto, Manaus, que se apropria a cada dia dessa estratégia, oferece a sua população um urbanismo corporativo, construído a partir da captura do poder público pelo interesse privado, materializando um modelo internacional extremamente homogeneizador, imposto pelos financiadores multinacionais dos grandes projetos urbanos, desenhando uma paisagem gentrificadora (facilitada por um plano diretor excessivamente complacente), produzindo violência e, como consequência, uma serie de enclaves fortificados que isolam o indivíduo, oferecendo um espaço público inóspito, pacificado ou mesmo domesticado. Neste lócus não há lugar para qualquer tipo de espaço contra hegemônico, o que resulta no empobrecimento da experiência urbana, e, na tentativa de construir uma imagem de urbe contemporânea, fortalece a uniformização dos costumes, passando a oferecer a população um modelo de cidade standard, que atropela e extermina suas identidades, clonando experiências urbanas que transformam a cidade em mercadoria e, por espelhamento, seus habitantes em consumidores. Sua localização e morfologia configuram peculiaridades espaciais: uma cidade encravada na maior floresta do mundo, entre os maiores rios do mundo e rasgada por uma infinidade de igarapés. Além disso, é abraçada pela maior população indígena do planeta, circundada por sua influência que, embora combatida e mascarada, se evidencia no tipo físico da sua população, na sua cultura e na sua memória. Manaus está inserida na natureza, mas insiste em voltar-lhe as costas, recusando sistematicamente o diálogo e fantasiando-se de “contemporaneidades”.