Planejamento sem gênero. Narrar as cidades para a equidade

As práticas discursivas atuam como instauradoras de realidades. É através do arranjo de códigos simbólicos que o espaço dota-se de sentido, tornando-se representação materializada das estruturas sociais. As categorizações dos sujeitos a partir da ordem binária de gênero radicalizam as identidades generificadas do espaço. A concepção generificada do espaço traz consequências ao acesso amplo e democrático da cidade, principalmente para as mulheres, tornando-se urgente questionar as maneiras pelas quais elas veem e vivem suas subjetividades dentro da matriz urbana, e de que forma as concepções da figura feminina, os papéis que lhes são atribuídos, e aqueles desempenhados por elas, contribuem para a reificação da desigualdade de gênero. Estes são pontos fundamentais para que se possa, com maior propriedade, averiguar as condições necessárias para que o planejamento urbano venha a ser um instrumento efetivo para a promoção da justiça social de gênero, ampliando o acesso das mulheres às esferas participativas-, sejam elas das ações cotidianas ou das ações políticas institucionalizadas, assegurando-se a possibilidade de atuação política e social das mulheres a partir da configuração do espaço. Neste sentido, as experiências das mulheres com a cidade não podem deixar de serem consideradas em suas especificidades narrativas e espaço-temporais bem como enquanto objeto de estudo de interesse do âmbito dos estudos territoriais. Assim, o projeto de pesquisa tem como objetivo a construção de uma metodologia de análise territorial que incorpore o pensamento do feminismo crítico na prática do planejamento urbano como forma de promoção da equidade no uso e na configuração das dimensões socioespaciais, com enfoque na investigação da experiência feminina em cidades latino-americanas.