Percorrendo o urbano entre planos e cotidianos o caso de Porto Alegre/RS

O espaço urbano evidencia no dia-a-dia uma série de contradições oriundas de diferentes processos históricos de consolidação. Parte destas contradições, a relação entre o planejamento urbano e a dimensão cotidiana aparece no presente trabalho como a temática a ser problematizada. Questiona-se aqui qual é o papel da cidade planejada a partir de um plano conceitual e/ou diretor na materialização do cotidiano percorrido pelas pessoas. O objetivo, portanto, é analisar de que maneira se dá a consolidação da vida cotidiana em função da sobreposição das diretrizes da cidade planejada ao longo de um período histórico no espaço urbano. Pretende-se partir do pressuposto de que o planejamento urbano através da relação entre o plano e a paisagem urbana resultante deste influencia nas diferentes dinâmicas cotidianas atuando ora como um catalizador e ora como um obstáculo a ser vencido. Com base nestes encontros e desencontros entre planos e cotidianos, a cidade é construída pelos seus diferentes atores no espaço-tempo adquirindo sentido quando percorrida. Logo, a abordagem da questão destacada se fundamenta na noção de percurso enquanto ferramenta metodológica que possibilita a associação entre a perspectiva histórica do planejamento e a perspectiva atual do cotidiano em função de três procedimentos complementares. Primeiramente, a construção dos percursos através do espaço comtemplando suas diferentes realidades. Em seguida, a desconstrução destes percursos através de pontos focais enfatizando a relação entre planos, paisagens e cotidianos. E, por último, a reconstrução dos percursos através do reagrupamento dos pontos focais gerando uma visão serial das diferentes realidades atravessadas. Entende-se que, a partir destes procedimentos, a cidade é redescoberta e aprofundada em suas múltiplas especificidades históricas e cotidianas que ora se complementam e ora se contradizem. Como lócus destas relações, objetiva-se analisar o município de Porto Alegre/RS que completou 100 anos de planejamento urbano em 2014. Durante este último século, o município passou por cinco momentos marcantes dentro da perspectiva histórica do planejamento. Em 1914, foi criado o Plano de Melhoramentos de Moreira Maciel responsável pelo primeiro instrumento de organização espacial da cidade. Já em 1938, surge a segunda experiência na área do planejamento em função do advento do Plano Gladosch desenvolvido pelo urbanista de mesmo nome. Contudo, Porto Alegre só foi ter um Plano Diretor em 1959 quando foi aprovada a Lei 2046/59. Desde então, o município apresentou mais dois momentos importantes no seu planejamento urbano: a aprovação do 1° Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (PDDU) em 1979 e a sanção da Lei Complementar 434 de 1999 que instituiu o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano e Ambiental (PDDUA). A partir desta história marcada por cinco propostas de ordenamento do espaço urbano, Porto Alegre vivencia hoje uma série de contradições espaciais que se manifestam no cotidiano. Logo, em associação com a análise destes cinco momentos históricos, objetiva-se desenvolver três percursos com a intenção de evidenciar as diferentes dinâmicas cotidianas resultantes da sobreposição destes momentos na paisagem urbana. Estes percursos atravessam as três zonas de Porto Alegre: o primeiro trajeto a Zona Norte, o segundo trajeto a Zona Leste e o terceiro trajeto a Zona Sul. Cada percurso revela cidades diferentes em função de relações distintas entre a história de mais de um século de planejamento urbano e o cotidiano das pessoas que se deslocam pelo espaço urbano garantido sentido e diferentes significados ao mesmo.