As companhias de “serviços industriais” em Porto Alegre na República Velha (1889-1930) e seu papel na estruturação do espaço urbano
Um dos aspectos menos conhecidos do processo de transformação da cidade de Porto Alegre, a evolução das infraestruturas e dos serviços públicos, possui uma dinâmica espacial própria, que também é social e econômica. A pesquisa pretende investigar as práticas das empresas envolvidas no planejamento e na estruturação das infraestruturas e dos serviços industriais da cidade de Porto Alegre no período entre 1889-1930. O enfoque principal recairá sobre as companhias de eletricidade, transporte, abastecimento de água e telefonia, vistas como agentes protagonistas da produção do espaço urbano. Em geral a urbanização das cidades brasileiras no período é analisada a partir da atuação das empresas loteadoras ou do papel do poder público, procurando estabelecer o peso dos aspectos regulatórios (Estado) e especulativos (companhias loteadoras) nas decisões espaciais. No presente trabalho será avaliada a hipótese de que a urbanização em Porto Alegre no período tenha sido promovida pela conjunção de interesses articulados entre as companhias loteadoras, o poder público e também do interesse decisivo das companhias técnicas, cujo corpo dirigente formava um grupo coeso ligado ao estado e às companhias loteadoras por laços de parentesco, laços políticos e com membros instalados em todas as mesas diretoras. Será analisado em particular o caso do “conglomerado” formado pela Companhia Predial e Agrícola S. A. (1897), Sociedade Fiat Lux (1887), Companhia Força e Luz Porto-Alegrense (1906, fusão da Cia. Carris de Ferro Porto-Alegrense, 1872 e da Cia. Carris Urbanos de Porto Alegre, 1891), Companhia Telephônica Rio-Grandense (1908) e Companhia Hydraulica Guaibense (1886). O trabalho deverá ser apoiado em pesquisa bibliográfica e documental. A pesquisa bibliográfica enfocará os processos de crescimento urbano e modernização, através das contribuições de Harvey, Bermann e Baumann. A contextualização histórica de Porto Alegre no período deverá se apoiar em autores como Strohaecker (2005), Singer (1977), Franco (1998), Souza (1997, 2010), Pesavento (1998, 2008), Bakos (1996) e Monteiro (1995, 2012). Em âmbito nacional e internacional a pesquisa procurará identificar processos de implantação de serviços de energia, transporte e saneamento em cidades americanas e europeias e brasileiras. As análises de McDowall (2008), Britto Pereira (2015) e Axt (1998) podem ser um ponto de partida para a pesquisa. As fontes primárias disponíveis incluem as atas e relatórios anuais das empresas de infraestrutura e loteadoras publicados na imprensa, com destaque para os jornais A Federação e Correio do Povo; os relatórios anuais dos intendentes municipais para identificar as expansões dos serviços; a documentação das companhias privadas arquivada nas juntas comerciais de Porto Alegre e do Rio Grande do Sul para dados sobre acionistas, capital e evolução financeira. A espacialização da implantação das infraestruturas será analisada através de plantas e mapas da época, disponíveis nas mapotecas da SMURB, do Arquivo Histórico Municipal Moisés Vellinho e dos arquivos das companhias sucessoras das empresas analisadas (Carris, CEEE, DMAE).